sábado, 27 de fevereiro de 2010

Stigmata



Cloretta Robertson

O caso da menina Cloretta Robertson é especial porque saiu do padrão normalmente observado em casos de stigmata. Cloretta era negra e batista, nascida em Oakland, Califórnia, EUA. Em 1972, a menina, então com 10 anos se tornou uma estigmática após assistir a um filme sobre a crucificação. Algumas semanas antes da Páscoa, ela estava sentada, numa sala de aula, quando percebeu que a palma de sua mão esquerda sangrava. Não doía e não havia qualquer marca visível no local. Foi levada a uma pediatra, que verificou a ausência de marcas ou cortes nas mãos de Cloretta. Mesmo assim a médica fez um curativo e a mandou para casa. Três horas depois, a mão direita da menina começou a sangrar. Novamente examinada pela médica, a dr. Loretta F. Early, e foi constatado que não havia machucado algum. Após isso, sangramentos começaram a ocorrer nos pés, peito e testa da menina. Cloretta foi então levada a um psiquiatra, o dr. Joseph E. Lifschutz, que submeteu-a a alguns testes e não identificou nenhum distúrbio de personalidade sério. Algumas fontes dizem que a menina era extremamente religiosa, enquanto outras afirmam que tinha uma fé “normal”. É preciso salientar no entanto que Cloretta desconhecia qualquer coisa relacionada aos estigmas, até que ela mesma foi afetada. O caso dela implica que talvez o fenômeno da stigmata nada tenha a ver com devoção religiosa ou milagres.

Isto fica mais claro ainda com o caso de “Elizabeth K”, uma paciente psiquiátrica do dr. Albert Lechler tratada em 1932. Depois de ter visto slides sobre a crucificação, ela começou a sentir formigamentos nos locais tradicionais das chagas, e ao ser hipnotizada pelo médico, que sugeriu que feridas apareciam nesses pontos, elas de fato apareceram. Ou seja, os estigmas da paciente nada tinham a ver com Jesus, e sequer eram milagrosos. De alguma maneira, a mente de uma pessoa, se devidamente estimulada (e para isso a prática religiosa é um prato cheio) pode provocar essas feridas no corpo.




Giorgio Bongiovani

Outro caso mais moderno é o do italiano Giorgio Bongiovani, nascido em 5 de setembro de 1963. Segundo ele, os estigmas apareceram durante uma peregrinação a Fátima, em Portugal, em 1989. O que é curioso no caso de Giorgio é fato de ele atribuir os estigmas à abdução alienígena, e que ele próprio foi levado por extraterrestres, que diz serem, na verdade, anjos constituídos de energia espiritual. Também é dito que ele recebe visitas de santos e da “Virgem”. Toda essa história contribuiu um monte para o movimento da “ufologia mística” ou “ufologia crística” (duas imensas baboseiras criadas e mantidas por pessoas carentes de atenção e desprovidas de qualquer racionalidade, que só servem para jogar lama nos esforços científicos e de pesquisas sérias com relação ao fenômeno OVNI).



Antonio Ruffini


O estigmático romano Antonio Ruffini convive com os estigmas nas suas mãos por mais de 40 anos. Diz-se que ele já foi examinado por médicos, e que seus ferimentos desafiam a explicação científica. Assim como outros, as chagas não infeccionam nem exalam mal cheiro, algo que normalmente ocorreria. Entretanto, não consegui encontrar quase nada sobre a biografia de Ruffini, seja na internet, seja em livros. O pouco que se diz dele é que faz profecias, e aparentemente também tem visões de santos e da “Virgem”.




O missionário Eduardo Ferreira


Eduardo Ferreira nasceu em Itajaí, SC, em 31 de julho de 1972. Os estigmas do rapaz começaram em 1996, porém eram ainda invisíveis. As marcas dos estigmas só se tornaram visíveis em 2002 e somente em 2003 que começaram a sangrar. Ele possui as chagas das mãos, pés, testa, flanco e as marcas de chibata nas costas. Entretanto, o missionário já tem visões da “Nossa Senhora Aparecida” desde 1987. A santa também lhe conta segredos, e segundo ele, ela irá lhe revelar 54. Jesus e o Arcanjo Gabriel também se comunicam com Eduardo. Na reportagem de tv que assisti, o missionário diz não poder revelar a maioria dos segredos, mas que pode adiantar que muitos têm a ver com catástrofes ambientais (como por exemplo o segredo que dizia que 7 praias brasileiras iriam sumir do mapa graças ao avanço do mar) entre outros relacionados a fé católica. Atualmente Eduardo mora no Paraná, onde conduz as celebrações de uma capela de devoção à Nossa Senhora da Rosa Mística (o nome se deve a presença constante das rosas nas visões dele). Segundo ele e os fiéis, a santa teria aparecido em uma pétala de rosa que estava depositada no altar da capela.

A Igreja Católica não reconhece os estigmas do missionário, nem sua alegada habilidade de fazer milagres e efetuar curas.

Neste artigo eu preferi não me ater muito aos casos de stigmata dos santos antigos da igreja católica, por motivos óbvios: os relatos que se tem deles são os mais parciais possíveis, de pessoas igualmente religiosas ou facilmente impressionáveis. Mas gostaria de atentar para outros detalhes sobre o fenômeno da estigmatização.

Primeiramente, a stigmata somente começou no século 13, e durante um bom tempo esteve praticamente restrita à Europa, principalmente na Itália (padrão que permanece ainda hoje). O fenômeno só ganhou o mundo conforme a expansão da fé católica. O fato de tudo ter começado no século 13 é extremamente significativo, já que foi nesse período que os primeiros retratos de um Cristo mais humanizado começaram a surgir (isto é significativo pois os fiéis passaram a se identificar mais com o sofrimento de Jesus).



Sudário de Turim


Um fato estranho com relação ao fenômeno dos estigmas é a mudança que ocorreu após a exibição do Sudário de Turim. Antes dela acreditava-se que as feridas da crucificação haviam ocorrido nas mãos de Jesus, e os estigmáticos apresentavam as chagas igualmente nas mãos. Depois, constatou-se que elas teriam ocorrido nos pulsos (o que foi confirmado por estudos posteriores que concluíram que, se um homem fosse crucificado pelas mãos, estas não agüentariam o peso, e que portanto, teriam que ser pregados pelos pulsos), e a partir de então, os estigmáticos passaram a apresentar chagas nos pulsos… Observe na foto acima a mancha escura, na figura da esquerda, sobre o pulso, e a mancha clara, na figura da direita, sobre o outro pulso. Ou seja, conforme as pesquisas evoluem no conhecimento sobre a vida e morte de Jesus, também evoluem os fenômenos, para acompanhar as novas tendências.

É preciso também salientar que não é especificado no Novo Testamento qual o lado que a tal lança feriu o flanco de Jesus. Por isso, os estigmáticos apresentam feridas tanto no lado esquerdo como no direito.

Outras ocorrências que normalmente não são mencionadas e que é preciso levar em conta é o dos casos de estigmas em pessoas que não eram religiosas. Há casos, como o da sueca de 23 anos “Maria K.” (nome fictício), tratada pelo médico Magnus Huss, no século XIX, que havia apanhado severamente. Muito tempo depois de já ter sarado ela continuava a ter sangramentos nas orelhas, olhos e outros pontos da cabeça, sem que houvesse quaisquer marcas na pele. O dr. descobriu então que ela podia estimular o sangramento sempre que quisesse, quando discutia com alguém ou ficando muito emocionada.

Alguns médiuns famosos também tinham a capacidade de estimular o aparecimento de estigmas, com a única diferença de que faziam isso conscientemente. Na maioria dos casos de estigmáticos, no entanto, o processo se dá de maneira inconsciente, sendo apenas ativado e estimulado pelo êxtase religioso e estados alterados de mente provocados por uma fé ou crença fervorosa. E esta é a explicação científica mais aceita para a stigmata.

Acredito que o que há de mais impressionante com relação ao fenômeno da estigmatização seja exatamente o processo em si. Particularmente acredito no poder que a mente tem sobre o corpo, e principalmente que boa parte das doenças que acometem os seres humanos são de ordem psicológica. O simples fato de que uma crença fervorosa em Cristo pode ocasionar feridas semelhantes as dele no corpo de um fiel é extremamente significativo. É praticamente uma confirmação do princípio hermético de que “como é em cima, é embaixo”. O que a mente pode imaginar ela pode criar. Literalmente.

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
▲ Ir para Topo